Atividade física em grupo é mais eficiente na recuperação do câncer de mama

Estudo da EEFE analisa a atividade supervisionada em grupo voltada a pacientes da doença.

De acordo com o Ministério da Saúde, o câncer de mama é o tipo mais comum entre as mulheres, sendo que milhões de casos são registrados anualmente no mundo. A atividade física é considerada um importante aliado na recuperação da doença, complementando o tratamento farmacológico e a quimioterapia. Porém, muitas mulheres enfrentam dificuldades ao tentar adotar uma rotina de exercícios físicos. Um estudo da EEFE buscou analisar se a prática em grupo poderia afetar a aderência a um programa de treinamentos voltado a essa população. 

Atividade Física é considerada um aliado para o tratamento do câncer de mama. Foto: Cecília Bastos/Jornal da USP

Remo e câncer de mama

O trabalho, de autoria de Raphael Barreto, sob orientação da Profa. Dra. Patrícia Chakur Brum, consistiu em uma análise comparativa entre a atividade física sem supervisão, orientada por cartilha e a atividade supervisionada em grupo, com a prática do remo, com estímulo ao uso da cartilha. A partir dessa comparação, analisou-se o nível de eficiência de cada modalidade, levando a um projeto de atividade física acessível às mulheres em tratamento.

A pesquisa foi feita a partir de uma parceria com o projeto Remama, que promove atividades de canoagem supervisionada com mulheres vítimas do câncer de mama e em processo de tratamento. Além das atividades físicas relacionadas aos fundamentos do remo e canoagem, as participantes realizam práticas no chamado barco dragão, que tem espaço para 20 mulheres remando ao mesmo tempo. 

Mulheres no barco dragão remando na raia olímpica [Divulgação/Jornal da USP]

O pesquisador explica que o remo tem um trabalho muito focado nos membros superiores, o que pode ajudar no tratamento de linfedemas e problemas de circulação nos braços, que muitas vezes prejudicam a mobilidade das pacientes. “A proposta da prática do remo era muito questionada, exatamente pelo fato da praticante movimentar muito o braço. Entretanto, depois de começar a dar resultado, essa proposta se tornou, de certa forma, disruptiva”, complementa.

Grupos supervisionados ou não

Participaram do estudo 35 mulheres entre 35 e 75 anos que terminaram o tratamento oncológico para câncer de mama há, no mínimo, 6 meses e, no máximo, 3 anos. Elas foram divididas em dois grupos, e todas receberam orientações sobre estilo de vida ativo de acordo com os parâmetros da Organização Mundial da Saúde (OMS). Desta forma, foram instruídas a realizar 150 minutos de exercício físico por semana. Esse tempo poderia ser dividido em 30 minutos por cinco dias ou 50 minutos por três dias não consecutivos. 

Ambos os grupos receberam uma cartilha produzida pelo Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP). O material continha explicações sobre os diferentes tipos de exercícios físicos, como aeróbico, força e flexibilidade. Além disso, indicava cuidados para a prática e incentivava uma mudança no estilo de vida. No primeiro grupo, após receberem as informações, as voluntárias poderiam realizar exercícios em casa, em academias ou ao ar livre.

Clique na imagem abaixo para acessar a cartilha distribuída às participantes:

As demais mulheres participaram de um programa de exercícios supervisionados em grupo. Esse programa consistia em sessões de remo em canoa duas vezes por semana na Raia Olímpica do Centro de Práticas Esportivas da USP. Também foram medidas variáveis para indicar a intensidade do esforço individual em todas as sessões, como frequência cardíaca, medida subjetiva do esforço, velocidade, entre outros. 

Atividade supervisionada ou autônoma trouxe benefícios

A intervenção foi realizada durante 16 semanas. Antes e após esse período, foram realizadas avaliações antropométricas e cardiovasculares, exames de sangue, testes de função física e níveis de atividade física por meio de um acelerômetro. Este último parâmetro também foi medido ao longo da intervenção. Além disso, as participantes também responderam a questionários sobre qualidade de vida, avaliação da fadiga, imagem corporal e quantidade de atividade física realizada.

As participantes que integraram o programa de exercício em grupo obtiveram melhores resultados.

Todas as participantes demonstraram redução do tempo sedentário, com consequente aumento da Atividade Física. Porém, as participantes do treino em grupo obtiveram melhores resultados em todos os parâmetros, incluindo no teste de sentar e levantar, de resistência muscular e outros testes funcionais. Esse grupo ainda obteve um aumento da percepção da qualidade de vida superior ao apresentado em relação ao grupo que treinou apenas com a cartilha. Ainda, as que treinaram em grupo obtiveram diferenças na antropometria, perdendo percentual de gordura e, possivelmente, melhorando em outras métricas.

Importância de um programa acessível

O pesquisador ressalta que uma prática supervisionada e individualizada de exercício físico pode ser mais eficaz para a melhora da aptidão física, mas aumenta o custo e limita o acesso às sobreviventes de câncer de mama. “Uma proposta apenas informativa de incentivo à atividade física, como as cartilhas, oferece melhor abrangência, mas a falta de supervisão dificulta a manutenção de um estilo de vida ativo”, comenta. 

O pesquisador Raphael Barreto com participantes do estudo. 

“A cartilha é uma excelente força criada a partir de diversos grupos e pessoas da área da saúde envolvidas com a promoção da atividade física na população com câncer de mama. Mas é uma força que tem sua limitação em termos de aderência das participantes. Ao mesmo tempo, para um projeto como o Remama ter uma amplitude maior, seria necessária a implantação de políticas públicas que envolvessem atividade física supervisionada a uma parcela maior da população”, conclui o pesquisador.

O trabalho integrou a Dissertação de Mestrado intitulada “Impacto da atividade física na aptidão aeróbia, força muscular e qualidade de vida em mulheres sobreviventes de câncer de mama: efeito do nível de supervisão” e pode ser acessado na íntegra no Banco de Teses da USP: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/39/39135/tde-04072024-155131/pt-br.php

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