O papel do Esporte na sociedade vai muito além do alto rendimento, do aprendizado e do lazer. Inúmeras questões sociais perpassam os eventos e práticas esportivas, que auxiliam no desenvolvimento de características como respeito ao próximo, trabalho em equipe, resiliência e diálogo, estimulando, potencialmente, a paz. Essa possibilidade é analisada em ensaio publicado na revista Peace Review: A Journal of Social Justice pela docente Ana Zimmermann, em parceria com o pesquisador W. John Morgan (University of Nottingham).
Muitos documentos institucionais destacam o potencial das práticas lúdicas e esportivas como elementos para uma cultura de paz. Mas, considerando a complexidade do fenômeno esportivo, muito se debate essa relação. Segundo os autores, o esporte pode fomentar o diálogo ao reunir pessoas de diferentes origens para jogar sob as mesmas regras e com os mesmos objetivos, criando a possibilidade de estabelecer uma conexão, mesmo que momentânea. Essa característica é observada em práticas dos mais diversos níveis, desde informais até os eventos profissionais.
O esporte pode fomentar o diálogo, criando a possibilidade de estabelecer uma conexão.
A atmosfera de uma partida é vista pelos autores como uma oportunidade para a construção de relacionamentos sociais que ultrapassam o universo dos jogos. Para crianças, por exemplo, é um ambiente de estímulo à compreensão, ao respeito e à vida em comunidade. Ao interagir com pessoas tão diferentes entre si, os jogadores são levados a superar estereótipos e não apenas tolerar, mas também valorizar as diferenças.
O contato físico com o adversário ajuda os envolvidos a compreenderem seus limites e potencialidades, ao mesmo tempo que desperta empatia e respeito e possibilita a criação de estratégias a partir das ações do oponente. A relação estabelecida é semelhante a um diálogo com e sem palavras, um convite e um desafio ao mesmo tempo. Mesmo nas situações de conflitos durante uma partida, para os autores prevalece o comportamento esportivo de evitar o desrespeito e aceitar as regras para que a competição possa continuar.
Mesmo nas situações de conflitos durante uma partida, prevalece o comportamento esportivo.
Por essas razões, o ensaio propõe uma reflexão sobre o as possibilidades de pensar o esporte como um caminho para a paz. Para que isso aconteça, é necessário que se preservem as suas bases éticas, mantendo em vista questões como a igualdade entre os gêneros, combate a preconceitos e ao racismo e esforços pela sustentabilidade. Ao mesmo tempo, é essencial atentar aos aspectos negativos que podem ser levantados pelo esporte de alto rendimento como dopagem, corrupção, competitividade excessiva, entre outros.
A ideia de que o esporte pode trazer a paz é reafirmada por diversas organizações internacionais, entre essas a UNESCO. O próprio movimento moderno Olímpico estabelece como objetivo colocar o esporte a serviço do desenvolvimento harmonioso da humanidade, promovendo uma sociedade pacífica e voltada à preservação da dignidade humana. “Entretanto, esta não é uma relação simples e linear, a reflexão ética precisa ser constante e aprofundada a fim de pensarmos que tipo de esporte queremos”, afirma a docente.
Para visualizar mais informações sobre o ensaio, acesse:
https://www.tandfonline.com/doi/full/10.1080/10402659.2020.1921396