Os efeitos do rolo miofascial na dor lombar crônica

Uma pesquisa da EEFE investigou se a técnica pode ou não ajudar quem sofre com a condição

A dor lombar crônica é uma condição musculoesquelética que dificulta a movimentação e afeta seriamente a qualidade de vida, podendo atingir qualquer indivíduo. Causada principalmente por má postura durante atividades cotidianas, a condição afeta, aproximadamente, 619 milhões de pessoas, de acordo com estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS). Até 2050, esse número pode ser ainda mais preocupante, podendo aumentar para 843 milhões de indivíduos.

A dor lombar crônica é uma condição que afeta seriamente a qualidade de vida. Foto: Marcos Santos/USP Imagens.

Dentre diversos tratamentos para a doença, a liberação miofascial com o rolo de massagem é uma das alternativas não-farmacológicas consideradas para aliviar tensões e dores musculares. Uma pesquisa da EEFE, desenvolvida por Dárcio Esteves Ruiz Filho e orientada pelo Prof. Dr. Júlio Cerca Serrão, investigou os efeitos dessa técnica na dor e na ativação muscular em pessoas com a condição. 

A técnica consiste em uma espécie de massagem lenta e contínua, feita com rolos de espuma, bastões, bolinhas de tênis e até com as mãos. Se for executada corretamente e sob orientação profissional, pode favorecer a recuperação funcional dos músculos, a mobilidade e o bem-estar.

Na pesquisa, 20 voluntários com dor lombar crônica realizaram testes para verificar se, após a utilização de um rolo de massagem, o comportamento muscular seria alterado em movimentos que simulam atividades da vida diária. Após a aplicação da técnica, foi possível observar a diminuição da ativação de um importante músculo estabilizador da coluna no movimento de sentar e levantar, exigindo menos do sistema musculoesquelético. Houve também ganho na mobilidade e velocidade de rotação de tronco. Vale ressaltar que a sensação de alívio trazida pela liberação miofascial é bastante individual e psicológica, e que seu uso ainda precisa de mais investigação como tratamento.

Os prejuízos da dor lombar crônica

A dor lombar crônica pode causar profundas alterações biomecânicas, musculares e posturais. Os indivíduos afetados podem sofrer com a “esquiva pelo medo” (fear-avoidance), um fator psicológico que os leva a evitar atividades físicas ou cotidianas. Embora pareça uma forma de autoproteção, na verdade, traz uma série de consequências graves que intensificam a dor.

Dores lombares frequentes fazem os indivíduos evitarem atividades físicas. Foto: Freepik.

A condição já afeta seriamente a musculatura da região lombar, mas a “esquiva pelo medo” piora a ativação dos músculos principais na estabilização da coluna lombar e no controle postural. Quando os músculos estabilizadores se tornam ineficientes, outros tecidos e estruturas – que não têm essa função – são sobrecarregados na tentativa de compensar a falta de suporte.

Desse modo, a dor lombar crônica prejudica severamente a capacidade funcional, levando à atrofia muscular, limitação do movimento, inflamações, fadiga precoce, perda da estabilidade e outros problemas. Além disso, também impacta o lado psicológico e social, podendo causar ansiedade, estresse, depressão, isolamento, incapacidade laboral e outras sérias consequências na qualidade de vida.

Testes clínicos com o rolo de liberação miofascial

Para compreender se a técnica de liberação miofascial com o rolo de massagem poderia ajudar pessoas com dor lombar crônica, o pesquisador realizou testes com 20 voluntários no Laboratório de Biomecânica da EEFE. Até o momento, este é o único estudo que buscou analisar os efeitos desse recurso especificamente em pessoas com tal condição.

No primeiro dia, os participantes realizaram a caracterização de seus parâmetros biomecânicos, ou seja, uma coleta de dados da ativação natural dos músculos e outras estruturas. Depois, passaram por dois protocolos em dias distintos: um placebo e outro experimental.

 

Exemplo da sessão experimental com o rolo de liberação miofascial. Foto: fornecida pelo pesquisador.

Na sessão experimental, os participantes deitaram sobre o rolo e realizaram sozinhos movimentos de “vai e vem” por dois minutos, massageando a coluna lombar e torácica. Já na sessão placebo, os indivíduos deitaram de barriga para baixo e o avaliador aplicou o rolo, mas sem exercer nenhuma força de compressão nas costas da pessoa.

Em seguida, os voluntários executaram tarefas que avaliaram a ativação dos músculos abdominais e lombares e a percepção da dor, verificando a eficiência da aplicação do rolo de liberação miofascial. As atividades foram: teste de resistência muscular; exercício stiff; pegar algo do chão (com e sem flexão de joelhos); flexão e relaxamento do tronco; sentar e levantar; e rotação de tronco sentado. Após os testes, uma nova coleta de dados foi realizada.

Os voluntários também responderam a um questionário nos dois dias, antes e depois da aplicação do rolo ou do placebo. O objetivo era registrar o nível de dor (em uma escala de 0 a 10) e verificar a influência da técnica nesse sentido.

Uso da técnica traz limitações e questionamentos

Os resultados da pesquisa mostraram que uma única aplicação da liberação miofascial não diminuiu, de forma aguda, a percepção de dor dos participantes. Apesar de serem constatadas alterações discretas, a técnica reduziu a ativação muscular do multífido lombar na tarefa de sentar e levantar, tornando o movimento menos custoso para o indivíduo. O pesquisador ressalta que “a dor é muito subjetiva e torna difícil a comparação direta”, sugerindo que níveis elevados de medo e evitação da dor podem ter influenciado os resultados do estudo.

Outro benefício encontrado foi uma melhora significativa na velocidade do movimento do tronco. Esse é um ponto positivo, já que pessoas com dor lombar crônica tendem a entrar em fadiga mais rápido, ter movimentos reduzidos e menor velocidade angular.

O rolo de liberação miofascial pode ajudar na movimentação, sendo menos dolorosa. Foto: Freepik.

A conclusão sobre os achados é que a técnica pode reduzir a ativação excessiva dos estabilizadores da coluna, potencialmente contribuindo para uma movimentação mais eficiente e menos custosa para os indivíduos com dor lombar crônica. Trata-se de um recurso que pode auxiliar no tratamento da condição e que deve ser mais investigado em pesquisas futuras.

A tese, intitulada Influência da liberação miofascial na dor e na ativação muscular durante a execução de tarefas funcionais por indivíduos com dor lombar crônica, está disponível integralmente no Banco de Teses da USP: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/39/39135/tde-29052025-095051/pt-br.php

Editoria: 
Texto: 
Lívia Borges
Estagiária sob Supervisão de Paula Bassi
Seção de Relações Institucionais e Comunicação

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