EEFE é pioneira ao investigar neuromodulação como possibilidade terapêutica na síndrome pré-menstrual

A cada ciclo menstrual, muitas mulheres sofrem com os efeitos da síndrome pré-menstrual, que pode induzir ao aumento no apetite e a alterações no humor. Estima-se um aumento médio de 238 kcal/dia na ingestão energética (até 597 kcal/dia) nesse período, assim como um aumento do desejo por alimentos doces. Ocasionados por mudanças neuroendócrinas, esses efeitos ocorrem principalmente por conta da maior ativação de áreas do cérebro ligadas a esse desejo.

Efeitos da síndrome pré-mentrual ocorrem principalmente por conta da maior ativação de áreas do cérebro ligadas ao aumento do desejo por alimentos doces. Foto: Imagem de pvproductions no Freepik

A condição pode impactar de maneira significativa as relações profissionais e afetivas, por isso, diversos estudos abordam técnicas que visam apaziguar os sintomas e trazer maior qualidade de vida às pessoas afetadas. Porém, o conhecimento acerca dos efeitos da neuromodulação na síndrome pré-menstrual ainda são relativamente desconhecidos. Por outro lado, os benefícios da estimulação cerebral, que é indolor e de fácil aplicação, já são comprovados em diversas situações, como no controle da compulsão alimentar e em quadros de ansiedade e depressão.

Neuromodulação na Síndrome Pré-Menstrual

Considerando o potencial terapêutico que a técnica apresenta, o NeuroSports Lab, da EEFE-USP, desenvolveu uma pesquisa sobre seus efeitos nos sintomas pré-menstruais. Participaram do estudo dezesseis mulheres em idade reprodutiva, sedentárias e ativas. As voluntárias foram avaliadas em termos antropométricos, de comportamento alimentar e de sintomas da síndrome pré-menstrual. 

A partir daí, foram submetidas a quatro sessões de neuromodulação: duas na fase lútea (pré-menstrual) e duas na fase folicular. A estimulação durava 20 minutos. Uma das sessões de cada fase era placebo, para fins de controle. A técnica utilizada foi a estimulação transcraniana por corrente contínua, que atua na atividade neuronal espontânea, influenciando o potencial de membrana em repouso. 

A estimulação é realizada por meio de eletrodos colocados no couro cabeludo. Foto: Guilherme Viana

A estimulação é realizada por meio de eletrodos colocados no couro cabeludo. Por meio deles, envia-se uma corrente elétrica de baixa intensidade para regiões específicas do cérebro. O procedimento altera a atividade elétrica cerebral das áreas de foco. No caso, a ideia era estimular o córtex pré-frontal e inibir o córtex orbitofrontal. 

Efeitos nas participantes 

Imediatamente depois das sessões, as participantes completaram questionários de humor e fome e foram submetidas a um teste para avaliar o desejo por alimentos específicos. Elas também recebiam instruções para registrar seu consumo alimentar no dia do experimento. Após análise dos resultados, concluiu-se que a estimulação não levou a alterações na fome e no desejo por comida, assim como também não houve alterações no humor. 

As participantes completaram questionários de humor e fome e foram submetidas a um teste para avaliar o desejo por alimentos específicos.- Foto: Guilherme Viana

Entretanto, foi observada uma tendência a diminuição no querer implícito por alimentos com baixo teor de gordura. O querer implícito está relacionado ao desejo inconsciente por alimentos. A hipótese é que a estimulação pode ter alterado alguma área cerebral relacionada ao querer implícito e que isso se refletiu na resposta em menor desejo por alimentos com baixa gordura. 

Possibilidade terapêutica em aberto

Segundo a pesquisadora Valéria Panissa, uma das autoras do estudo, essa conclusão não significa que a neuromodulação deva ser descartada como potencial terapêutico para a síndrome pré-menstrual. “Esse estudo abre novos caminhos para a pesquisa nessa área. Pode-se utilizar diferentes desenhos experimentais e manipular variáveis relacionadas à neuromodulação, como aplicação em outras áreas cerebrais e multi sessões”, comenta.

Resultados não excluem potencial terapêutico da neuromodulação na síndrome pré-menstrual. Foto: Guilherme Viana

A pesquisa foi realizada no NeuroSports Lab e contou com a orientação do Prof. Dr. Alexandre Moreira, além da colaboração de pesquisadores da Unicamp, Unifesp e UFABC. O estudo foi fruto do trabalho de Iniciação científica da aluna Fernanda Santos Lima, com apoio da FAPESP (2020/07075-0). O artigo, intitulado “Effect of transcranial direct current stimulation on homeostatic and hedonic appetite control and mood states in women presenting premenstrual syndrome across menstrual cycle phases”, foi publicado na revista Physiology and Behavior e pode ser acessado pelo link: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0031938423000033?via%3Dihub

 

Ordem: 
10

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